23 de dezembro de 2012

deu

me deu saudades do sertão
me deu tesão
da terra seca
roçando o osso
da boca seca
de areia
nos versos
de joão cabral

de ser sertão na pele
nas rugas das mãos
sertão na face
de sorriso branco
sem dentes
me deu saudades de alguém
talvez
da aurora boreal
da neve
da nave
das luas de júpiter
do sol da tarde
do sal
da saudade

amo a são paulo que não existe
essa são paulo livre nas férias de verão
a mesma das chuvas tempestades enchentes enxurradas
raios que me partem em nuvens de um azul tão níquel
e líquido e límpido e ácido
amo a são paulo que não existe mais nas ruas vazias
do centro na madrugada sem carros nem faróis
amo as luzes apagadas do viaduto do chá
e as putas da liberdade
amo a liberdade de estar aqui
quando ninguém mais está
só algumas crianças que brincam na calçada
desavisadas e abandonadas
o trânsito de ontem foi parar no guarujá
que bicho geográfico é esse de viver aqui
entre construções irregulares especulação imobiliária
e a violência policial
a zona oeste não é periferia
que pena
são paulo é tão mais bela vista de longe
de cima do avião à noite parece filme de terror
de ficção científica
tamanha luz engruvinhada
amo a luz de são paulo nas fotos PB
do livro de levi-strauss
porém
fecho minhas malas
em abril



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